Serena Williams, Sue Bird e representatividade no esporte

Sue Bird e Serena Williams, 2 lendas do esporte que se aposentaram em setembro de 2022

Representatividade, uma palavra que está na moda e é extrema necessária. De forma resumida, a expressão remete a alguém ou algo que dá voz, que abre espaços e dá visibilidade para determinados grupos que compartilham entre si valores, interesses, identidades e causas em comum. No esporte, que também é político, apesar de alguns negarem isso, a representatividade também está muito presente e ajuda na transformação da sociedade. O mês de setembro de 2022 ficará marcado na história como o mês da aposentadoria de 2 lendas do esporte feminino, Serena Williams e Sue Bird. Ambas deixam um legado que vai muito além dos seus títulos e premiações individuais. Ambas deixam um legado de representatividade.

A ideia desse texto ficou na minha cabeça desde que acompanhei os últimos jogos da Serena no US Open 2022 e ao ver como haviam tantos negros acompanhando os seus jogos no estádio Arthur Ashe. Aliás, nada mais simbólico que Serena, uma mulher negra, ter encerrado sua brilhante carreira num estádio que leva o nome de um dos grandes tenistas negros da história e cuja trajetória é marcada pela luta antirracista e ativismo social. Deixo aqui uma matéria que fala de Arthur Ashe, vale a pena conhecer sua história. Poucos dias depois o Seattle Storm foi eliminado pelo Las Vegas Aces, numa semifinal histórica da WNBA, e, assim, chegava ao fim a também brilhante carreira de Sue Bird. Após ler os relatos emocionados e emocionantes das minhas amigas de Twitter Isabela Mei e Rébeca Valente, fãs de Sue Bird, falando como ela foi importante para trazê-las pro basquete e de como o amor pelo esporte cresceu por causa dela, pensei em quanto Williams e Bird, de modos diferentes, foram importantes ícones de representatividade.

Emocionada, Serena Williams se despediu do tênis ao ser derrota por Ajla Tomljanović no US Open. Foto: Angela Weiss/AFP

Serena Williams encerrou a carreira como a 2ª maior vencedora da história de Grand Slams com 23 títulos, 1 a menos que Margaret Court. Talvez esse 1 titulo de Slam faça a diferença para que ela não seja considerada, de forma incontestável, a maior de todos os tempos. Pra mim, e para muitos, ela é a maior. Além das conquistas individuais, Serena tem ainda 14 títulos de majors de duplas ao lado de sua irmã Venus, também uma das maiores tenistas da história, e 2 títulos de dupla mista, com o bielorrusso Max Mirnyi. Foram ainda 4 medalhas de ouro olímpicas individuais e 3 ouros de duplas com sua irmã Venus. Mas o legado de Serena vai além das conquistas. Ver um estádio repleto de pessoas negras torcendo por uma mulher negra não era algo comum no tênis, muito pelo contrário, o esporte sempre foi considerado de elite. Vale destacar aqui que a 1ª jogadora negra a ganhar um Grand Slam foi Althea Gibson, que foi técnica das irmãs Williams no começo da carreira delas. Aqui um texto para conhecerem um pouco mais da história da Althea Gibson, que, sem dúvida alguma, pavimentou com muita luta o caminho para os tenistas negros que vieram depois dela. Serena, ao lado de sua irmã Venus, continuaram o legado de Gibson e foram fundamentais para que hoje a gente veja pessoas negras frequentando um estádio de tênis e também para o surgimento de tantas outras mulheres negras praticando o esporte. Naomi Osaka, Sloane Stephens, Coco Gauff, entre outras, estão aí para mostrar que a cara do circuito feminino, antes dominado por tenistas brancas, mudou nas últimas 2 décadas. Além da questão racial, Serena levantou uma bandeira que vale para todas as mulheres que jogam tênis profissionalmente. Após voltar do período de afastamento pela maternidade as jogadoras despencavam no ranking da WTA. Serena criticou muito essa questão, dizendo que o ranking da WTA a puniu por ter engravidado. Após o caso de Serena, a WTA fez os ajustes no livro de regras do ranking para que as jogadoras que engravidassem não fossem tão prejudicadas e tivessem alguma proteção ao retornarem ao circuito.

Sue Bird se despediu das quadras após o Seattle Storm ser eliminado pelo Las Vegas Aces na WNBA. Foto: Lindsey Wasson/Associated Press

Sue Bird também se despediu das quadras como uma das maiores da sua modalidade. Foram 21 temporadas jogando um basquete de altíssimo nível no Seattle Storm, onde disputou todas as temporadas da WNBA, na Europa em algumas temporadas e na seleção dos EUA. A armadora tem 5 medalhas de ouro olímpicas e 4 títulos mundiais com a seleção estadunidense, além de 4 títulos da WNBA e 2 conquistas de NCAA, o basquete universitário dos EUA. Além disso, Sue é a líder histórica de jogos disputados e de assistências da WNBA. Fora das quadras, Bird é noiva da jogadora de futebol Megan Rapinoe. Ambas militam pelos direitos das mulheres e da comunidade LGBTQIA+. A exemplo dos relatos de Isabela e Rébeca, passou por mim muitas outras mensagens de mulheres que também destacavam a influência de Sue Bird no seu amor pelo basquete. Durante décadas as mulheres foram privadas de praticar algum esporte e, até mesmo torcer por algum time ou atleta. Bird tem papel fundamental na mudança desse cenário ao despertar o amor e trazer muitas meninas pro basquete e para o esporte. Meninas que um dia viram nela alguém que validava os seus sonhos de praticar, trabalhar ou comentar sobre basquete.

Ao final da carreira de um(a) atleta devemos medir o seu tamanho não apenas pelos números e títulos conquistados, mas também pelo legado além das quadras, campos, tatames, piscinas, etc. Somando-se tudo que fizeram dentro de quadra e o legado fora dela, não há a menor dúvida que, quando falamos de Serena Williams e Sue Bird, estamos falando de duas das maiores atletas do esporte mundial. Certamente ambas continuarão a inspirar muitas pessoas por suas histórias e conquistas, além de representarem a possibilidade de realização dos sonhos de outras mulheres ou negros que queiram praticar alguma modalidade ou frequentar algum espaço antes restrito.


Deixe um comentário

Crie um site como este com o WordPress.com
Comece agora